[Odontologia no Ar] Fluoretar a água é uma das mais importantes medidas de saúde pública do século XX

Odontologia no Ar
Odontologia no Ar
[Odontologia no Ar] Fluoretar a água é uma das mais importantes medidas de saúde pública do século XX
/

O flúor protege o esmalte dentário do ácido produzido pela metabolização da placa bacteriana. E é isso que produz a cárie, uma das doenças mais comuns na população mundial

Você já deve ter ouvido falar que o flúor protege contra a cárie. Ele protege o esmalte dentário do ácido produzido pela metabolização da placa bacteriana. E é isso que produz a cárie, uma das doenças mais comuns na população mundial. Por isso, a adição desse elemento químico na pasta de dente e nas águas de abastecimento para o consumo humano é uma importante medida de saúde pública. Elas se complementam, diminuindo o risco da doença cárie. É sobre essa medida benéfica que a professora Simone Rennó Junqueira, da Faculdade de Odontologia (FO) da USP, fala nesta edição do podcast.

O flúor é um elemento químico presente naturalmente nas águas, sejam elas provenientes de fontes de superfície, como os rios e lagos, ou de fontes subterrâneas, como nascentes e poços. Geralmente, em concentrações muito pequenas, incapazes de promover o benefício esperado.

Foi justamente a partir da observação de que crianças de um município, cuja água de consumo continha flúor, tinham menos cárie do que outras que moravam em município sem água fluoretada, que surgiu a ideia de adicionar artificialmente fluoretos na água de consumo humano, tendo em vista que a cárie era uma doença de grande prevalência na população e que trazia muitos incômodos, o que culminava com a extração dentária.

Assim, a utilização dos fluoretos como método preventivo contra a cárie dentária iniciou-se em 1945, nos Estados Unidos. A partir de então, vários países também adotaram a medida, inclusive o Brasil, em 1953, cuja regulamentação surgiu em 1974.

No mundo todo, essa medida foi capaz de reduzir, em média, 60% da prevalência da cárie em crianças, após dez anos de uso contínuo. Não por acaso, a fluoretac?a?o das águas foi considerada uma das dez medidas de saúde pública mais importantes do século XX.

O Brasil também apresentou uma importante redução da cárie em crianças e adolescentes. Em 1986, quando foi realizado o primeiro estudo epidemiológico nacional, a prevalência de cárie em crianças era muita alta, segundo os parâmetros da OMS, a Organização Mundial da Saúde. Algo em torno de quase sete dentes acometidos pela doença.

No último estudo, realizado em 2010, percebeu-se que a prevalência de cárie passou a ser baixa, passando para dois dentes afetados. A fluoretação das águas foi uma das responsáveis pelo feito. Crianças e adolescentes residentes em cidades brasileiras com fluoretac?a?o das águas apresentam um índice de cárie cerca de 1/3 menor do que aquelas residentes em cidades sem o benefício.

Estima-se que pouco mais de 60% dos municípios brasileiros fazem a fluoretac?a?o, abrangendo uma cobertura populacional de 76%, uma das mais altas coberturas entre os dez países mais populosos do mundo. A condição indispensável para sua implementação é a existência de um sistema ou rede de tratamento e distribuição da água. Observa-se que os municípios de menor porte e baixo índice de desenvolvimento humano são os que têm mais dificuldade para implementar a política.

Para que ocorra seu efeito preventivo, é necessário manter constante a concentração de fluoretos nas águas, em torno de 0,7 e 1,2 mg F/L, o que exige medidas precisas de vigilância sanitária. Por outro lado, o excesso na concentração também pode provocar fluorose, um distúrbio de desenvolvimento do esmalte dentário caracterizado por manchas opacas nos dentes, que se apresenta de forma simétrica. Esse risco ocorre quando elevados níveis de fluoretos são consumidos por crianças de até oito anos de idade.