[Odontologia no Ar] Saúde bucal do brasileiro pode avançar com maior inserção da assistência odontológica na atenção básica à saúde

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[Odontologia no Ar] Saúde bucal do brasileiro pode avançar com maior inserção da assistência odontológica na atenção básica à saúde
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No Dia Mundial da Saúde Bucal (20/3), a professora Ana Estela Haddad, da Faculdade de Odontologia (FO) da USP, faz um balanço sobre o avanço da saúde bucal do brasileiro e da odontologia no Brasil, país com maior número de dentistas no mundo.

Como todos sabem, uma boa saúde bucal é essencial para a saúde como um todo. Para evitar problemas de saúde dos mais simples até os mais graves, manter uma boa higiene bucal também é primordial.  E foi pensando nisso que a Federação Dentária Internacional (FDI) instituiu, em 2007, o Dia Mundial da Saúde Bucal, comemorado no dia 20 deste mês.

No relatório final de conferência paralela a outro evento que criou o Sistema Único de Saúde (SUS), em 1988, ficou estabelecido que a saúde bucal é parte integrante da saúde geral do indivíduo e está diretamente relacionada às condições de alimentação, moradia, trabalho, renda, meio-ambiente, como também ao acesso aos serviços de saúde e à informação, sendo responsabilidade e dever do Estado a sua manutenção.

Como anda a saúde bucal do brasileiro depois dessas iniciativas? Para responder a essa pergunta, o Momento Odontologia desta semana convidou a professora Ana Estela Haddad, da Faculdade de Odontologia (FO) da USP. Para a professora, temos o que comemorar no Dia Mundial da Saúde Bucal.  Ana Estela relembra que dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) mostraram que em 1998 aproximadamente 19% da população brasileira nunca tinha ido ao dentista. Já em 2008, dez anos depois, esse porcentual caiu para 11%, “com a inclusão de 22 milhões de brasileiros com acesso ao atendimento odontológico”. 

Além disso, segundo dados de 2018 do Conselho Federal de Odontologia (CFO), o Brasil é o país com maior número de dentistas no mundo, com mais de 312,4 mil profissionais da área. “A odontologia brasileira é mundialmente reconhecida”, destaca a professora, que ainda recorda que o Brasil alcançou a 2° colocação em produção científica mundial, relacionada à área de odontologia.

Ações de saúde bucal na atenção básica 

O Brasil ainda implantou, em 2004, a Política Nacional de Saúde Bucal, que envolveu a ampliação do acesso às ações e serviços de saúde bucal na atenção básica, com a inclusão das equipes de saúde bucal na estratégia de saúde da família e a criação dos centros de especialidade odontológica. Números mais atuais mostram que são, aproximadamente, 24 mil equipes de saúde bucal e 1.120 centros de especialidade odontológica no País. “Sem dúvida, a criação do acesso impactou positivamente os indicadores de saúde bucal.”

Dados do IBGE de 2019 mostram que 34 milhões de brasileiros, com mais de 18 anos, perderam 13 dentes ou mais, e 14 milhões de pessoas perderam todos os dentes. Na mesma pesquisa, o IBGE apontou que menos da metade dos brasileiros consultou um dentista nos 12 meses anteriores ao levantamento.

A professora reconhece que a oportunidade de fazer com que todo conhecimento e evidências científicas produzidos no Brasil sejam revertidos em impacto positivo e relevância social “está na adoção do modelo de atenção à saúde do SUS e na inclusão da saúde bucal neste modelo”. Conta a professora que a abordagem populacional, o fortalecimento das ações de saúde bucal na atenção básica e a atuação a partir da demanda populacional “é o que pode conduzir o País à melhora da saúde bucal da população”.

Nesse caso, as políticas de prevenção à cárie podem ajudar o País a mudar esse cenário, já que “se tem evidências que possamos agir, no nível individual e coletivo e de políticas públicas, para que cada criança cresça sem cárie”, afirma Ana Estela. A professora conta que diversas pesquisas comprovam que o açúcar de adição representa um fator de risco comum, tanto para cárie quanto para doenças crônicas não transmissíveis, que estão entre as principais causas de mortalidade na fase adulta.

Um estudo publicado em 2014 demonstrou a associação entre a presença de doença periodontal em gestantes e adolescentes e o aumento no consumo de açúcar de adição. “Pesquisas como essas levam a uma teoria de integração entre a cárie e a doença periodontal no rol das doenças crônicas não transmissíveis.”

Por situações como essa, o dentista assume um papel protagonista, por ser o primeiro profissional a identificar sinais relacionados e fatores de risco ao futuro possível aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis. “Como geralmente isso acontece antes do aparecimento, é possível atuar preventivamente sobre esse fator de risco”, avalia a professora.

O futuro da assistência à saúde bucal no Brasil

A odontologia pode ser responsável por descobrir e tratar problemas ainda mais graves, como o câncer bucal. Isso porque, segundo a professora, dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) mostram que são registrados aproximadamente 15 mil novos casos da doença no Brasil a cada ano. Desse total, cerca de 50% resultam em óbitos, por falta do diagnóstico precoce.

“O futuro da saúde bucal deve ser compreender e considerar, cada vez mais, a saúde bucal como parte da atenção integral à saúde da população, sendo planejada e implantada como parte de uma política nacional de saúde, de saúde pública e integrada ao SUS”, reforça Ana Estela.


Produção e Apresentação: Rosemeire Talamone

CoProdução: Alexandra Mussolino de Queiroz (FORP), Letícia Acquaviva (FO), Paula Marques e Tiago Rodella (FOB)

Edição Sonora: Gabriel Soares

Edição Geral: Cinderela Caldeira